Piracicaba comemora amanhã 255 anos inserida no mapa global da inovação pelo AgTechValley, conhecido como Vale do Silício do Agronegócio. No setor industrial, os anúncios de investimentos em tecnologia e expansão geram otimismo e boas perspectivas de futuro. Caderno especial.
Em 2015, Piracicaba iniciou um grande salto na concepção de desenvolvimento tecnológico, econômico e educacional. Foi uma mudança de patamar, fruto de movimentos sincronizados envolvendo instituições de ensino, empresas dos mais diversos setores, abertura para novas relações de trabalho, foco na governança com agilidade e na gestão pública com visão de futuro, bem como, evidentemente, um consenso entre empreendedores, pesquisadores e investidores, sob a perspectiva de cidade vista como um vale de riqueza para o desenvolvimento da agroindústria nacional.
No entanto, para que a mudança ocorresse dentro do propósito de unidade e integração, foi preciso um reencontro com a própria história da cidade, bem como o trabalho criativo diante da realidade complexa e diversificada do setor, com grandes e médias empresas devidamente posicionadas em cadeias produtivas consolidadas, de um lado, e empreendedores independentes e aqueles que dependem exclusivamente do cooperativismo, do outro; sendo que todos se despertavam para a necessidade de um reposicionamento para absorver e se beneficiar das inovações tecnológicas, sem fronteiras.
O risco de se perder o timing desse processo era o mesmo de desperdiçar a grande oportunidade de se manter na vanguarda empreendedora, da qual as lideranças locais sempre se orgulharam, como mentores de estratégias de sucesso. No brainstorm de tamanha envergadura, veio à tona um autorretrato da cidade, que se alimenta desde o final do século 19 das iniciativas de Luiz de Queiroz e do Barão de Rezende, da criação do Engenho Central, das empresas Dedini, dos liceus, da Escola Agrícola Luiz de Queiroz, hoje Esalq-USP, entre tantos outros empreendimentos no mundo da arte e da cultura, que marcaram a história do município e a memória dos seus entusiastas.
A fronteira tecnológica, portanto, estava se expandindo e a competitividade carecia de um reposicionamento rápido e qualificado, que agregasse valores para superar gargalos. Palavras de ordem como parcerias estratégicas, integração de sistemas e trabalho em rede ganharam a cena com a estruturação do Vale do Piracicaba, conhecido hoje como AgTechValley, em analogia ao Vale do Silício da Califórnia, sendo a EsalqTec um dos componentes desse ecossistema de inovação tecnológica dedicado à agricultura digital.
Sem tempo a perder
Em 2015, começaram, portanto, os primeiros movimentos de integração entre universidades, centros de pesquisas, parques tecnológicos, hubs, startups e, obviamente, as próprias empresas em busca de colocação nesse cenário efervescente e repleto de palavras diferentes, curiosas e provocativas, que exigem ação para interpretá-las e conhecer o motivo de terem vindo à luz.
Nesse agregado, se envolveram muitas instituições e órgãos públicos, como a própria Esalq-USP, o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Sindicato Patronal da Indústria (Simesp), Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi), Sindicatos, Fundação Municipal de Ensino (Fumep), Cooperativa dos Plantadores de Cana (Coplacana), Fundação Luiz de Queiroz (Fealq), o Parque Tecnológico Engenheiro Agrônomo Bruno Emílio Germek, Prefeitura de Piracicaba e Câmara de Vereadores, entre outros.
A iniciativa almeja beneficiar todos os setores econômicos, de forma integrada: imobiliário, turismo de negócios, prestadores de serviços e fornecedores de produto e matéria-prima, com a finalidade de gerar renda e empregos qualificados. Segundo o Radar AgTech Brasil 2021, a partir da iniciativa do Vale do Piracicaba, a cidade se tornou a segunda do país com maior concentração de startups do agro, o que representa cerca de 40% das startups do setor em operação no país.
Uma explosão que certamente iniciou com certo ‘delay’ em ‘terra brasilis’, em relação aos grandes centros econômicos globais, mas que encontrou terreno fértil para dar vazão à grande revolução tecnológica à brasileira.
Com este olhar para o futuro, nesta edição a Gazeta de Piracicaba busca divulgar algumas iniciativas que projetam a cidade, abrindo horizontes educacionais para as novas gerações, integradas à pesquisa, com perspectiva regional e nacional, potencializadas por legislações modernas, empreendedores que partilham esforços e acreditam estar diante de um momento crucial para o estabelecimento de novas fronteiras para a ciência e a tecnologia, para os negócios, evidentemente, mas, acima de tudo, para as relações humanas e o desenvolvimento socioeconômico da Noiva da Colina.
Vale da agroindústria
Na década passada, Piracicaba já contava com um parque tecnológico, inaugurado em 21 de agosto de 2012, no bairro Santa Rosa.
Um de seus propósitos era funcionar como incubadora de empresas com novas tecnologias e agregar parceiros e investidores que estivessem em busca de propostas inovadoras, que pudessem abrir mercado para iniciativa de alto valor agregado.
Mas até então, o conceito de Vale do Piracicaba, ou techvalley, era apenas uma hipótese, sem um fio condutor para implementá-lo. A AgTechValley, propriamente dita, como um ecossistema de tecnologia de inovação voltado à agroindústria, ganhou forma apenas em 2016, e disparou.
Fonte: Gazeta de Piracicaba